Já participo de movimentos políticos há alguns anos. Sempre acreditava que a grande anomalia da nossa democracia estaria em nossos representantes políticos. Pois sempre tivemos a certeza da corrupção encrustada nos meandros políticos.
E mais, sempre foi lugar comum a afirmação que o homem honesto não teria lugar na política, pois de fato também iria se corromper.
E pelo que parecia a tese da crise pura da representatividade seria verdadeira, pois os escândalos de assaltos ao erário seriam mais frequentes, e os representantes continuavam a nos decepcionar.
Mas depois de participar de três processos eleitorais e aprofundar os estudos nos institutos da Ciência Política tendo a discordar desse pensamento.
Vejo mais que uma crise de representatividade no mandato político, temos uma verdadeira crise de participação popular.
Alguns poderiam discordar expressando o movimento popular do semestre passado. Acredito que tenha sido um excelente sinal, mas não a mudança do nosso imobilismo.
A verdade que vejo é o interesse público defendido por uma parcela pequena do população. Muitos estão apenas voltados aos próprios interesses.
O que vemos é uma desesperadora luta por direitos e interesses fragmentados. Quando muito, agremiações se reúnem para lutar por interesses ou direitos específicos, mesmo quando esse direito específico venha contra o interesse de toda a comunidade.
E o grande reflexo é quando se aproxima as eleições. Temos a evidente venda de votos, a evidente barganha de muitos eleitores por cargos e funções no Poder Público.
Mas o preocupante é nosso imobilismo por efetivar uma participação concreta nos canais legítimos que a democracia representativa nos traz, tais como fiscalizar a ações dos nossos representantes. Participar das associações de bairros, denunciar ilícitos, agir voluntariamente em prol da comunidade, como campanhas, ou ações proativas que muitas organizações o fazem. Talvez muitos diriam que o mundo moderno não permitem essas participações, pois estão atarefados com seus trabalhos ou outras ocupações.
Mas a que preço essas pessoas não participam do sistema político? Diria que a um custo muito alto.
Talvez o mais maléfico até não seja ficarmos imóveis, talvez ser participantes e espelhos da corrupção quando no período eleitoral. Sim, pois quando se vende o voto, quando se pede um cargo, quando se vota estritamente pela amizade, nos tornamos tanto quanto corrupto daqueles que estejam nos representando, ou talvez mais.
E me parece que isso é generalizado, as eleições são marcadas pelo poder financeiro e pelos favores pessoais a eleitores. Pensar diferente seria, a meu ver, fugir dos fatos.
E como possibilitar a mudança desse padrão tão maléfico a nossa democracia?
Vejo que somos e sempre seremos responsáveis pelo nosso meio. E se o vemos decadente temos inúmeros mecanismos democráticos que permitem a mudança, ainda que venham de forma lenta.
É claro que a educação é solução dessa falta de consciência participativa. Mas se queremos contribuir para uma mudança é não nos omitir diante dessa crise.
E acredito que vale tentar. Não só reclamando, pois isso quase todos o fazem muito bem. Mas indo além: separar algum espaço de nosso tempo para participar efetivamente da vida política da nossa cidade e do nosso Estado. Uma delas é concretizar os espaços de canais de reclamos. Um bom exemplo é participar da vida política mais próxima a nós: as associações de bairros. Sim, alguns poderiam dizer que em seu bairro não há Associação. Se não há, crie-se! Mobilize os moradores de seu bairro, forme um grupo e leve as reivindicações aos vereadores e ao Prefeito.
Outro exemplo de participação: se ver uma irregularidade no serviço público, denuncie, formalize o que vê errado. Pois assim, estará ajudando a comunidade a ter um serviço melhor.
E por aí vai, participação política é não só ter conhecimento das notícias políticas ruins que todos os dias nos indignam. Mas sobretudo agir, transformar nossa indignação em atitudes concretas. Isso é afirmar nossa cidadania.
A nossa Constituição é sem dúvida uma das mais garantistas e avançadas nos direitos sociais. No entanto, falta a a proatividade do povo para busca de sua concretização.
E que superemos nossa crise! Começando por nosso próprio imobilismo!
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